Plenária reúne grupos sociais mais vulneráveis às consequências das mudanças climáticas

• Atualizado há 6 meses ago

A plenária “Identidades Multidiversas e Mudanças Climáticas”, realizada pelo Fórum Municipal sobre Mudanças Climáticas (FMMC) em cooperação com a Secretaria Municipal de Administração (Semad) e Universidade Livre da Amazônia (Ulam), reuniu o público que mais corre o risco de sofrer as consequências da emergência climática em curso.

Negros, LGBTQIA+, pessoas em situação de rua, representantes de várias etnias indígenas entre outros grupos vulneráveis estiveram na tarde deste sábado, 25, no auditório do Instituto Federal de Educação, no bairro do Marco, para apontar, discutir, relatar suas vivências e construir o Plano Municipal de Mudanças de Climáticas de Belém. 

Onze plenárias já foram realizadas para ouvir todos os públicos na construção da Conferência Municipal de Mudanças Climáticas  que será realizada em novembro de 2024, em Belém. É da Conferência que deve sair o plano que pode mitigar os efeitos da crise climática na cidade.O coordenador do Fórum Municipal sobre Mudanças Climáticas, Sérgio Brazão, aponta que nesta plenária foi dada ênfase à escuta de vivências dos que mais serão atingidos pelos efeitos da crise climática.

“Temos no Fórum e fazemos questão de levar às plenárias, vários multiplicadores das informações sobre as mudanças climáticas. Mas temos aqui grupos que historicamente estão fora de todas as discussões e hoje a gente deu voz a esses grupos, ouvimos quilombolas, LGBTQIA+, várias etnias indígenas, mulheres trans, população em situação de rua. Hoje pudemos ouvir seus aspectos e o que eles sofrem, para que assim possam ser contemplados no nosso planejamento. Porque o Plano é um planejamento do qual se pretende fazer lei, para que ele possa servir por 30, 50 anos”, disse o coordenador.

O engajamento popular nas discussões sobre o impacto da crise climática no dia a dia das pessoas foi destacado pela secretária-executiva do FMMC, Marinor Brito. “As plenárias da pré-conferência  seguem juntando o povo e seu protagonismo na elaboração do Plano Municipal e a Conferência Municipal para as Mudanças Climáticas de Belém. Essa plenária é a cara da nossa gente”, declarou Marinor.

Para o prefeito Edmilson Rodrigues, que participou da mesa de abertura da plenária deste sábado, é imprescindível que se ouça os especialistas, mas que também se abra o debate para ouvir aqueles que mais podem sofrer os efeitos da crise. 

“O caminho para reverter essa crise climática tem que considerar a crise social e a democracia como elementos indissociáveis. Então se tem fome, se tem miséria, se tem desemprego, se tem exploração não é possível se falar em justiça climática. A justiça climática tem que vir junto com a justiça social e com o direito do povo em decidir o seu futuro”, afirmou o prefeito.

Mais de cem instituições de pesquisa e ensino já fazem parte do Fórum Municipal de Mudanças Climáticas e mais de 2.500 pessoas já participaram das ações plenárias realizadas pelo Fórum, que cumpre um dos seus objetivos, que é formar multiplicadores para levar a informação sobre as mudanças a todos os territórios.

Protagonismo 

Para um dos indígenas da etnia Warao, da Venezuela, que mora em Belém há mais de um ano, Israel Castilho, receber o convite para participar do evento foi uma honra. “Discutir sobre como a nossa própria cultura pensa e cuida da natureza e trazer para o evento a nossa visão foi de grande importância para nós”, afirma o índigena. “Saber que as autoridades desejam ouvir também sobre as nossas dificuldades pela primeira vez num evento como é esse, faz a gente ver a diferença entre Belém e outros lugares”, complementa. 

A professora doutora Marilena Loureiro, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará e do Grupo de Mulheres do Brasil- núcleo Belém, acredita que esses eventos contribuem efetivamente para a ampliação da conscientização pública da questão absolutamente premente que é a questão das emergências climáticas.

“Isso tudo faz com que essa discussão se aproxime daqueles que efetivamente são mais afetados. A gente compreende que vive numa sociedade classista, desigual, com muita assimetria e a questão das emergência, as suas consequências, vão afetar muitos mais determinados segmentos da população, e o poder público precisa se preocupar com isso e para além de uma preocupação pontual de discussões preparatória à COP-30. É preciso pensar nos instrumentos para que a cidade construa um legado para a minimização dessas consequências”, conclui a professora.   

A realização de plenárias continua. Nas próximas semanas serão realizadas plenárias temáticas de servidores, da agricultura familiar, do saneamento básico, do Distrito de Belém (Dabel) e de mudanças climáticas.

Texto:

Márcia Lima

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