A prefeitura de Belém realiza a 2ª Jornada de Gratidão aos povos negros – um Tributo ao Povo irmão de Guiné Bissau, nos dias 28 e 29 de novembro, no Hangar Centro de Convenções da Amazônia. O segundo dia iniciou com a mesa-redonda “A Rota Transatlântica – Os Caminhos de Belém e Guiné-Bissau”.
O debate teve a participação de José Alves Souza Júnior (UFPA), José Maia Bezerra Neto (UFPA), Afonso Benevides, do Vodunço Ahonssi do Tambor de Mina, Fernando de Mello, diplomata brasileiro em Guiné-Bissau, Lilian Galvão, artista e pesquisadora em Cacheu, e mediação de Elza Santos (Coant).
A mesa Rota Transatlântica discutiu o Tráfico Negreiro da região do Guiné-Bissau para a Amazônia, São Luís e Belém: de que forma isso constitui a identidade paraense e a importância de fazer esse resgate da história para combater o preconceito.
Religiões
O destaque vai para a rejeição das religiões de matrizes africanas e como, desde a época da escravidão, já havia essa mentalidade de abolição com o José Bonifácio, figura importante da história do país.
Bonifácio foi exilado do Brasil e, logo após deixar o cargo, quem assume o poder é um genro de um dos maiores traficantes de escravos da região, Bazi de Carvalho Leão. Destacou-se também como os compradores de escravos na época pagavam antecipadamente antes mesmo dos navios negreiros chegarem no território da Amazônia.
Ricardo Ossagô de Carvalho, cientista político e professor universitário, 39 anos, é de Guiné-Bissau e mora no Brasil há 20 anos; nos últimos seis anos, atua como docente Universidade Federal de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Convidado para uma das mesas do evento, afirmou achar “importante esse evento, desde a abertura ontem, fazer essa relação entre o Brasil que teve toda essa herança dos povos escravizados e, em paralelo ao continente africano, especificamente Guiné-Bissau e Cacheu, de onde partiu grande parte dos escravos”, relata o professor.
Resgate histórico
Ricardo também parabenizou a Prefeitura de Belém e a todos os envolvidos no evento “por contribuir no debate daquilo que tem surgido ultimamente no Brasil sobre a questão racial. Então nada melhor do que fazer um evento no Mês da Consciência Negra que tem toda uma reflexão sobre o lugar do negro na sociedade brasileira, num resgate histórico”.
O professor destacou ainda: “É um debate necessário, na escola, na rua e em qualquer lugar. E isso partindo do Estado, não só da academia, como tem sido discutido. É muito importante esse evento, justamente no mês de novembro, que abre possibilidades para várias outras discursões”.
Raízes
Rosângela da Silva Quintela, 56, é socióloga e antropóloga e já ministrou aulas sobre a história da África e compareceu ao debate também com assessora e socióloga da Prefeitura de Belém, por meio da Copsan. Ela conta que a Coordenadoria já faz um trabalho nas perspectivas africanas e soberania alimentar.
“É fundamental cada vez mais a valorização das ancestralidades e das raízes africanas. O evento está na sua segunda jornada, então está se criando uma tradição com uma celebração intelectual, de danças, de alimentos e de todas as esferas africanas”, destacou Rosângela.
A devida importância
Luiz Arnaldo Campos, coordenador das Relações Internacionais da Prefeitura de Belém, fala da necessidade de realizar este evento: “É dada pouca importância à presença negra na Amazônia. Houve um expressivo tráfico da Guiné-Bissau e do Porto de Cacheu e que por isso estão recebendo a nossa homenagem: são lugares que fazem parte da nossa ancestralidade”.
“O debate vem para nos apropriarmos da nossa própria identidade, é onde estão nossos avós e grande parte dos povos que participaram dessa formação multirracial, que é o povo amazônida, vieio daquela região do Cacheu”, destacou Luiz Arnaldo. “Essa mesa-redonda é muito importante para estreitarmos os laços com a África e fazer com que Belém seja realmente uma ponte no Atlântico entre Caribe, Amazônia e África é um dos nossos objetivos”.
A Prefeitura de Belém realiza o evento por meio da Semec, Ulam/Semad, Fumbel, Corint, Coant e Comus. Ela tem como parceiros UFPA, UEPA e Djumbai.
Estagiária Débora Lopes, supervisionada pela jornalista Cleide Magalhães.
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